martedì 15 gennaio 2013

Recorto a minha sombra...

 
 
Recorto a minha sombra da parede,
Dou-lhe corda, calor e movimento,
Duas demãos de cor e sofrimento,
Quanto baste de fome, o som, a sede.

Fico de parte a vê-la repetir
Os gestos e palavras que me são,
Figura desdobrada e confusão
De verdade vestida de mentir.

Sobre a vida dos outros se projecta
Este jogo das duas dimensões
Em que nada se aprova com razões
Tal um arco puxado sem a seta.

Outra vida virá que me absolva
Da meia humanidade que perdura
Nesta sombra privada de espessura,
Na espessura sem forma que a resolva.

José Saramago em :Os Poemas Possíveis
 

Ritaglio l’ombra mia dalla parete,
le do corda, calore e movimento,
due mani di colore e di tormento,
quanto basta di fame, e suono e sete.

In disparte, la vedo replicare
i gesti e le parole che mie sono,
figura duplicata e confusione
di verità vestita di menzogna.

Sulla vita degli altri si proietta
questo gioco a due dimensioni
in cui nulla si prova con ragioni
come arco teso privo di saetta.

Verrà un’altra vita che mi assolva
da questa mezza umanità che dura
in quest’ombra che lo spessor trascura,
nello spessor ch’è informe e non risolve.

Josè Saramago

 

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